18 maio, 2011

Dachau

Naquele dia eu preferi não tomar café. Não fazia muito sentido mas eu via o café da manhã como uma ofensa ao lugar que ia visitar. Tomei um banho, me vesti rapidamente, peguei o carro e fui para a cidade medieval de Dachau. Ia visitar o pai de todos os campos de concentração, um título que se explica porque todas as maldades implantadas nos outros campos foram experimentadas ali primeiro, na Academia do Terror.
Quando entrei na estradinha, parecia um paraíso, uma estradinha singela com árvores dos dois lados que enfeitam o céu azul. Depois de uma curva qualquer lá estava a construção que não atrapalharia muito a paisagem caso eu não soubesse o que aconteceu ali dentro.



Na mesma reta temos o paraíso


E o inferno

"Há um caminho para a liberdade, seus marcos são: Obediência, honestidade, limpeza, sobriedade, trabalho duro, disciplina, sacrifício, verdade, amor à pátria mãe". Estas belas palavras eram o mote estampado nos telhados de Dachau. Palavras lindas que foram usadas para brutalizar pessoas, retirando delas o pouco que ainda restava de dignidade. Palavras que a propaganda nazista utilizou para encobrir um genocídio.


Arbeit marcht frei (Libertação pelo trabalho), este portão separava os SS dos prisioneiros, passando daqui estava o inferno.
Prefiro não ver o nazismo como fenômeno alemão, acho simplista pensarmos que só uma nação foi intolerante, é fácil apontar a perversidade do outro sem olhar para a nossa própria perversidade. Vejo o nazismo como uma manifestação bestial da natureza humana. As fotos das pessoas com olhos brilhando diante de Hitler refletem como o pior das pessoas vem à tona quando elas se colocam em posição de submissão e idolatria. É uma verdadeira esquizofrenia de massa.
Deixando de lado as discussões sociológicas, o campo traz à tona diversos sentimentos: náusea, revolta, tristeza... O que me emocionou bastante ali foram as histórias das pessoas. Especialmente da costureirinha romena, linda que foi mandada pro campo na flor da idade, sendo transformada em "fantasma humano". A cada relato, o que me vinha era: poderia ser eu, poderia ser você, poderia ser cada um daqueles que não fizeram nada para impedir.
A visita a este campo foi uma experiência libertadora. Mesmo que eu sempre soubesse dos absurdos que aqui aconteceram, ver com meus próprios olhos deu uma outra dimensão ao terror.


Um dia eu estava a caminho de um dos cantos do campo onde iria cavar para procurar minhoca, já que eu náo conseguia encontrar mais nenhuma grama. Eu passei por uma janela e fiquei repentinamente estarrecida... Uma velha enrugada me encarava com olhos fundos - Um fantasma de ossos... Eu rapidamente olhei em volta para ver quem era aquela figura, aquela cabeça sobre um caule que me amedrontou mais do que qualquer coisa que eu já havia visto em minha vida.
"Esta sou eu", eu percebi. "Este fantasma sou eu..."


Sara Tuvel Bernstein, a mesma da foto abaixo

já comprei o livro



Libertação de Dachau, a cara da liberdade tem vários sorrisos... Pessoas como nós mesmos, todos humanos.





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