20 junho, 2012

Ivan Lessa na RevistaPiauí



"Tenho que ter em mente duas ou três coisas que fazem parte deste meu périplo. Primeiro, que todo suicida volta ao local onde, indigitado e tresloucado, ateou fogo às próprias vestes. Segundo, que tudo que eu escrever poderá ser usado contra mim. Ainda, que aqui não reconheço nada e nada faz questão de me reconhecer ou conhecer."

"Quando me preparava para este pulo, peguei uma folha e comecei a escrever o nome de amigos e amigas que gostaria de rever. Preparava-me para encher ao menos um caderno de bom tamanho. Não chegaram a dez. Dou-me a desculpa de que morreram todos ou foram para Petrópolis ou Brasília. A verdade é que, mesmo morando nesta enorme (então bem menor) cidade, minha vida sempre se passou — a sério, para valer — entre uma dúzia de pessoas e outros tantos quarteirões. O resto era paisagem (ela de novo, sempre ela), pano de fundo, cenário para dar clima."

"E o tédio de tudo que passou, a chatice do passado? Essa não ocorreu a nosso querido Marcel, que, mais uma vez, dormiu demais, acordou quando já era noitinha. O passado é meio ridículo. Feito aqueles filmes mudos, granulados, coberto de riscos. "

" O que interessa é que passei, de algum tempo para cá, a me entender comigo mesmo, que é o que importa. Eu manjo de perder cidades. De estalo, seria capaz de citar três ou quatro. Mas isso é muito pessoal e as gentes com a papelada em ordem para passar pela minha aduana são poucas. Mesmo se levarmos em conta que eu sou o único brasileiro, vivo ou morto, que não sabe batucar em caixa de fósforos ou coisa alguma."

Muito legal este relato do saudoso Ivan Lessa, no site da revista tem o texto completo





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